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12/04/2025

Traços de personalidade influenciam no desenvolvimento da insônia, diz estudo da USP

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Estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) investigou a influência dos traços de personalidade no desenvolvimento e na perpetuação da insônia e constatou que há uma relação direta entre as duas coisas. Dois achados chamaram a atenção dos pesquisadores: altos índices de abertura foram associados a baixos índices de insônia, enquanto o alto nível de neuroticismo (caracterizado por instabilidade emocional) foi bastante prevalente em pessoas com o distúrbio de sono. Os resultados foram publicados no Journal of Sleep Research.

“Decidimos estudar a influência dos traços de personalidade sobre a insônia por se tratar de um transtorno extremamente prevalente e que traz impactos negativos para a saúde, como maior risco de hipertensão, diabetes, ansiedade e depressão. Essas diversas condições de saúde física e mental levam a uma pior qualidade de vida de forma geral”, explica Bárbara Araújo Conway, psicóloga do sono e autora da dissertação de mestrado defendida no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM-USP), com apoio da Fapesp e orientação da professora Renatha El Rafihi-Ferreira, do Departamento de Psicologia Clínica.

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Como explicam as autoras, a insônia é um dos distúrbios do sono mais prevalentes nos adultos. Estima-se que cerca de 30% da população mundial sofra com o problema, caracterizado pela dificuldade de adormecer, de permanecer dormindo ou de voltar a dormir após um despertar indesejado. No Brasil, especificamente em São Paulo, esse número é ainda maior: quase metade dos paulistanos (45%) reclama de insônia, segundo dados do Estudo Epidemiológico do Sono (Episono).

Cinco traços de personalidade

De acordo com Conway, há uma teoria bem estabelecida na literatura que propõe a existência dos “3 Ps” da insônia: predisposição (fatores que tornam um indivíduo mais propenso a ter o distúrbio), precipitação (gatilhos associados ao surgimento dos sintomas) e perpetuação (comportamentos que fazem com que a pessoa se mantenha no ciclo vicioso da insônia).

Assim, os pesquisadores partiram da hipótese de que o neuroticismo, que é mais prevalente em insones, poderia ser considerado um fator de predisposição ao transtorno do sono. Além disso, eles investigaram se os sintomas de ansiedade e depressão poderiam atuar como mediadores e moderadores da associação entre o neuroticismo e a insônia.

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Mas para entender como os autores chegaram aos resultados do estudo é preciso voltar um passo atrás e conhecer os traços de personalidade. “São características que estimam um padrão de como são os sentimentos, pensamentos e comportamentos de determinada pessoa. São um conjunto de fatores que formam a personalidade e as características do indivíduo. De acordo com a teoria Big Five, todos nós temos diferentes níveis dos cinco traços de personalidade”, explicou a psicóloga. São eles:

  • Extroversão: pessoas com nível de extroversão mais alto tendem a ser mais falantes, mais dominantes, com perfil de liderança. Preferem atividades em grupo, têm maior facilidade de se relacionar, de criar intimidade e costumam ser mais assertivas. Já as pessoas com baixo nível de extroversão não são necessariamente introvertidas, mas preferem ficar mais sozinhas e costumam ter mais dificuldades em trabalhar com grupos
  • Neuroticismo: é um traço de personalidade relacionado ao grau de estabilidade emocional. Pessoas com alto índice de neuroticismo costumam ser mais instáveis emocionalmente e tendem a focar em aspectos mais negativos da vida. São pessoas que, diante de uma adversidade, tendem a se desorganizar e sofrer mais intensamente, sendo mais suscetíveis ao estresse. A literatura científica aponta que um alto neuroticismo tem uma correlação com ansiedade e depressão
  • Amabilidade: é um traço de personalidade relacionado à empatia. Pessoas com altos índices de amabilidade tendem a ser mais empáticas, mais cordiais e preocupadas com o bem-estar alheio, focando muito na situação do outro (podendo até ser ingênuas e valorizarem o outro em detrimento de si próprias). Aquelas com baixos índices costumam ser mais céticas e mais desconfiadas
  • Abertura à experiência: a pessoa aberta a novas experiências tende a ser mais criativa, com comportamento exploratório diante da novidade. Tem interesse pelo novo, são pessoas curiosas, imaginativas e vivenciam as emoções de forma mais intensa. As pessoas com baixos índices de abertura são aquelas que preferem a rotina, evitam o desconforto e tendem a ser convencionais
  • Conscienciosidade: também pode ser chamada de realização. Pessoas com altos índices são determinadas, comprometidas, motivadas, perseverantes e podem sacrificar prazeres momentâneos em busca de um objetivo maior. Um índice muito alto pode não ser bom, porque pode levar ao perfeccionismo. Aquelas com baixos índices são menos exigentes, menos obstinadas, no senso comum seriam mais “preguiçosas”

O estudo

Para chegar aos resultados, os pesquisadores avaliaram 595 participantes, entre 18 e 59 anos, divididos em dois grupos: um formado por pacientes insones que buscaram ajuda e receberam diagnóstico formal feito por um médico especialista em sono e a outra metade era um grupo-controle, com pessoas sem queixas de insônia.

Os níveis de personalidade de cada participante foram estabelecidos por meio de um questionário de uso exclusivo dos profissionais da psicologia, composto por 60 perguntas que estabeleceram um escore. Os voluntários dos dois grupos responderam às questões para que os pesquisadores pudessem definir os escores dos traços de personalidade de cada um.

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Após aplicar o questionário para os dois grupos, cruzar e analisar os dados, Conway constatou que os pacientes com insônia têm índice muito mais alto de neuroticismo do que os voluntários sem insônia, além de apresentarem índices mais baixos de amabilidade, de abertura e de conscienciosidade. Extroversão foi o único traço de personalidade que não apresentou diferença significativa. “Neuroticismo foi o traço que mais se destacou, os insones possuem esse índice bem mais alto. Mas não podemos afirmar que os insones são mais introvertidos”, pondera Conway.

As análises também mostraram que: 61,7% dos insones apresentaram alto índice de neuroticismo, em comparação com 32% do grupo-controle; 40,7% dos insones possuíam baixos índices de abertura, contra 23% do grupo saudável; 31,5% dos voluntários com insônia apresentaram baixa amabilidade em comparação com 23,2% dos não insones; e 37,7% dos insones tinham baixa conscienciosidade, contra 24,1% do grupo-controle.

“Após análises estatísticas mais detalhadas, os resultados do estudo nos permitem afirmar que pessoas com altos índices de neuroticismo têm uma propensão maior a ter insônia”, afirma a pesquisadora.

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O grupo também fez uma análise estatística para investigar se algum outro fator poderia interferir na associação entre neuroticismo e insônia e descobriu que a ansiedade atua como mecanismo de mediação, ou seja, são os sintomas da ansiedade que de fato fazem com que o neuroticismo influencie no desenvolvimento da insônia. “Ela explica todo o efeito do alto neuroticismo na insônia”, diz a pesquisadora. O grupo também testou o papel da depressão, mas ela não demonstrou ser um mecanismo importante nessa relação.

Efeito na prática

Considerando que os traços de personalidade estão associados a resultados positivos ou negativos no que concerne à saúde física e mental, o estudo sugere que é importante conhecer os traços de personalidade mais prevalentes entre indivíduos com insônia, de forma que o conhecimento possa auxiliar no processo de avaliação, prevenção e planejamento de tratamentos mais adequados e de acordo com a especificidade de cada paciente.

Os resultados reforçam que, para tratar a insônia de um paciente, é preciso também investigar e tratar a sua ansiedade. “Essas descobertas são importantes na prática clínica, pois ao receber pacientes com esse traço de personalidade é fundamental pensar em um plano de tratamento que foque não somente no sono, mas também na ansiedade”, diz El Rafihi-Ferreira.

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Mas, para que isso aconteça, os profissionais de saúde precisam compreender e avaliar a personalidade dos pacientes que buscam ajuda quando têm problemas no sono. “Sabemos que a maioria dos insones tem alto índice de neuroticismo. Esses pacientes merecem investigar e tratar sua ansiedade para que a insônia também melhore. Por vezes isso envolve terapias e medicações diferentes, por isso é importante ter um olhar mais amplo para a história e especificidade de cada indivíduo”, frisa Conway.

Atualmente, o tratamento considerado “padrão-ouro” para insônia é a terapia cognitivo-comportamental aplicada à insônia (TCC-I), mas ainda existem poucos psicólogos especializados em sono no Brasil para oferecê-la. Por isso, os pesquisadores defendem que os profissionais de saúde tenham um olhar mais amplo e aprofundem na investigação dos fatores psicológicos dos pacientes.

“A associação entre traços de personalidade, ansiedade e insônia traz a importância do desenvolvimento de protocolos de tratamento transdiagnóstico, isto é, que envolvam a integração de técnicas e processos comportamentais para tratar um conjunto de dificuldades emocionais que compartilham processos e mecanismos subjacentes às diferentes queixas”, pontua a orientadora do estudo.

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“Já temos um tratamento não farmacológico para insônia, mas, da mesma forma que não temos um medicamento que vai ser eficaz para todos os pacientes, uma única abordagem de terapia também pode não funcionar para todo mundo. Esses resultados contribuem para o desenvolvimento de novos protocolos psicológicos e comportamentais mais personalizados para o tratamento da insônia”, finaliza Conway.



Informações GOV.SP

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