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07/04/2025

Reconhecimento da Unesco pode difundir ainda mais Maracatu Nação

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O envio do dossiê do governo federal com o pedido de reconhecimento do Maracatu Nação, também conhecido como baque virado, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade gerou expectativa nos grupos da manifestação, localizados em sua maioria em Pernambuco. Para alguns, o tombamento vai auxiliar na difusão e manutenção dos grupos. Mas há quem veja a possibilidade de maior reconhecimento com ressalvas.

Na última segunda-feira (31) os Ministérios da Cultura e das Relações Exteriores entregaram à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) a documentação exigida para o reconhecimento, que será avaliado por um comitê intergovernamental que trata da Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial do órgão. A decisão será conhecida até o final do próximo ano.

O coordenador de comunicação da Associação de Maracatus de Olinda (AMO), mestre Nilo Oliveira, considera que a declaração de patrimônio cultural imaterial seria muito bem-vinda, somando-se ao reconhecimento como patrimônio cultural imaterial do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2014.

A AMO reúne mais de 30 grupos de Maracatu Nação. Segundo Oliveira, o trabalho de mapeamento percorreu um longo caminho, desde 2021, contando com a participação de mestres de maracatus ligados à AMO e à Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (Amanpe), além do Iphan e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

“Para a gente, foi muito importante. A gente vem acompanhando todo o processo desde o começo, junto com o pessoal da AMO. Foi um trabalho prolongado, minucioso, já que são vários grupos que a gente teve que pesquisar, teve que trabalhar, conversar, e cada um com as suas características particulares, mas no final foi super gratificante”, disse o mestre à Agência Brasil.

Tradição e ancestralidade

O Maracatu Nação é uma das mais antigas manifestações culturais de Pernambuco e reflete a ancestralidade dos povos africanos diaspóricos. Originária do povo negro, da cultura de terreiro, a manifestação artística da cultura popular e carnavalesca ocorre principalmente na Região Metropolitana do Recife (PE), incluindo Municípios como Olinda, Igarassu e Jaboatão dos Guararapes.

Com origem que remonta ao período colonial, entre os séculos 17 e 18, o Maracatu Nação é formado por cortejos majestosos, nos quais integrantes desfilam com trajes ricamente adornados com pedrarias e bordados, que remetem às coroações reais, acompanhados de um conjunto musical percussivo.

Esses cortejos podem fazer referências às antigas coroações de reis e rainhas do antigo Congo africano. Eles são formados por personagens como os batuqueiros, o caboclo aneaúm, o porta-estandarte, as damas de paço com as calungas, as damas de frente, os lanceiros, as baianas ricas, as baianas de cordão, os orixás e/ou entidades da Jurema, os escravos de balé, a corte mirim, os casais nobres, príncipes e princesas, o porta-pálio, os pajens, os soldados romanos, as vassalas, o rei e a rainha.

Cada um desses personagens possui uma forma de se expressar no desfile. Entre os principais, estão o rei e a rainha da nação de maracatu, que são os personagens centrais na composição hierárquica do cortejo; as calungas, bonecas negras confeccionadas com madeira ou pano, consideradas ícone do fundamento religioso e marco identitário dos maracatus nação; a dama do paço, personagem feminina responsável por conduzir a calunga durante o cortejo.


Brasília (DF), 06/04/2025 - Maracatu Nação Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Mestre Nilo. Foto: Mestre Nilo/Arquivo Pessoal
Brasília (DF), 06/04/2025 - Maracatu Nação Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Mestre Nilo. Foto: Mestre Nilo/Arquivo Pessoal

Mestre Nilo está à frente do Maracatu Nação Maracambuco Mestre Nilo/Arquivo Pessoal

Mestre do Maracatu Nação Maracambuco, Nilo destaca que a calunga tem uma mística que representa os espíritos antepassados. No caso do grupo, fundado em 1993, a calunga se chama Isabel Arruda de Oliveira.

“A regente de Maracambuco é Iemanjá, a Calunga, a Isabel…. e a gente é do bairro de Peixinhos [em Olinda]”, disse Mestre Nilo enquanto cantarolava um trecho de uma música do Maracambuco “Oh Isabel! Tu és a Calunga mais bela do Céu, Isabel. Oh, Isabel! Tu és a Calunga mais bela do Céu. Ela é do Maracambuco, ela é minha rainha, ela é a herdeira És a Boneca de Olinda que tem o Arruda e o Oliveira.

Atualmente, além de existir em outros estados do Brasil, o Maracatu Nação também ganhou outros países, com registros da expressão no Canadá, Estados Unidos, França, Alemanha, entre outros. O mestre do Maracatu Nação Tigre Fabiano Pedro da Silva também ficou animado com o envio do dossiê.

“Foi uma conquista. Uma conquista dessa é muito importante para valorizar a expressão do maracatu”, resimiu o mestre à Agência Brasil.


Brasília (DF), 06/04/2025 - Maracatu Nação Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Mestre Fabiano. Foto: Mestre Fabiano/Arquivo Pessoal
Brasília (DF), 06/04/2025 - Maracatu Nação Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Mestre Fabiano. Foto: Mestre Fabiano/Arquivo Pessoal

Mestre Fabiano lidera o Maracatu Nação Tigre Mestre Fabiano/Arquivo Pessoal

Fundado em janeiro de 1975 pelo seus avós, Melquiades de Sena Reis e dona Lourdes, o Nação Tigre ficou inicialmente localizado no bairro de Campo Grande. Mudou, em 1975, para Peixinhos, onde até hoje esta localizado até hoje. Em 2010, o comando da manifestação foi assumido por mestre Fabiano.

“É muito importante para todos os maracatus, principalmente para o estado de Pernambuco, que agora tem maracatus espalhados no Brasil e no mundo”, continuou.

Reconhecimento

Para entrar na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco, a candidatura deve seguir alguns critérios, como o bem cultural ser registrado como patrimônio imaterial pelo Iphan; ter um plano de salvaguarda elaborado; e garantir o envolvimento dos detentores do bem cultural no processo. 

Foi justamente por perceber que as ações previstas no plano de salvaguarda não estão sendo totalmente executadas que outro mestre de Maracatu Nação, Danillo Mendes, vê com ressalvas a possibilidade de a manifestação se tornar bem cultural imaterial da humanidade.

À frente do Maracatu Enconto do Dendê, fundado em setembro de 1998, no bairro da Macaxeira, por Edmilson Lima do Nascimento, também conhecido como Tio Missinho, hoje, Danillo divide as funções de comando, com o sobrinho de Tio Missinho, Adilio Santos. Uma das ações previstas no plano é a de promover autonomia financeira e geração de renda para as nações de maracatu.

“Esse plano de salvaguarda já vem rolando, virou algo nacional e não teve nenhuma coisa que chegou até a gente, sobre verba, sobre reconhecimento”, afirmou o mestre.

Com uma perspectiva mais crítica, o mestre contou à Agência Brasil que o tombamento como patrimônio cultural imaterial do Brasil, não foi suficiente para gerar ações de salvaguarda dos maracatus, especialmente no que diz respeito à sobrevivência dos grupos, que enfrentam dificuldades para cobrir os custos para colocar a brincadeira na rua.

“Eu acredito que seja, vamos dizer assim, algo muito vazio, sabe? Porque isso não garante nada, nenhum incentivo para gente que possam fomentar ajuda às nações e a se manterem”, observou.

O mestre disse que as apresentações são poucas e que, mesmo com os valores recebidos, os gastos não são cobertos. “É um valor que não bate com os gastos, com os custos, principalmente para quem pensa em fazer maracatu de uma forma séria e bonita, de se fazer querer entrar cada vez mais bonito na avenida no Carnaval”, continuou.


Brasília (DF), 06/04/2025 - Maracatu Nação Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Mestre Danilo. Foto: Mestre Danilo/Arquivo Pessoal
Brasília (DF), 06/04/2025 - Maracatu Nação Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Mestre Danilo. Foto: Mestre Danilo/Arquivo Pessoal

Mestre Danilo à frente do Maracatu Enconto do Dendê. Mestre Danilo/Arquivo Pessoal

Danilo também citou como exemplo o espaço destinado à evolução dos maracatus no concurso de desfile de Carnaval, que não proporciona qualidade e bem estar, tanto para os integrantes das nações quanto para o público.

“A gente participa de um concurso de agremiação, que fomenta muito a discussão e rivalidade entre os grupos, mas a gente não tem nenhum incentivo, não tem uma passarela digna, limpa, espaçosa, com policiamento, com uma equipe de saúde, tem pouca iluminação”, lamentou.

“Enfim, é tudo muito vazio sobre isso. Beleza colocar como patrimônio da Unesco, mas nada que vá melhorar na vida. Eu faço parte de maracatu há 25 anos, e muito que o maracatu evoluiu é porque as nações quiseram evoluir elas por elas mesmas. Enfim, a gente fica fazendo nosso trabalho, buscando nosso espaço, querendo que isso traga alguma coisa pra gente, mas sabendo que a gente depende da gente mesmo”, finalizou.

Atualmente, existem sete bens culturais do Brasil inscritos na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade: o samba de roda do Recôncavo Baiano; as expressões orais e gráficas dos Wajapis; o frevo; o Círio de Nazaré; a roda de capoeira; o Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão e o modo de preparar o queijo minas artesanal.

 



Agência Brasil

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