
Com o apoio da Câmara Municipal de Limeira, foi realizado nesta sexta-feira, 28 de março, o 2º Fórum Mulheres na Política e a Violência Política de Gênero. Saúde mental e a participação de mulheres no Legislativo e no Executivo foram temas pautados no encontro.
De iniciativa da vereadora Mariana Calsa (MDB), a ação promovida no mês dedicado às mulheres também contou com o apoio da Prefeitura, da escola de formação política RenovaBR e do Grupo Mulheres do Brasil.
O objetivo do evento foi promover o debate sobre a importância da participação política das mulheres, dar visibilidade ao combate à violência política de gênero e discutir as dificuldades de inserção e da permanência das mulheres nos espaços de tomada de decisão.
Além de Mariana Calsa, foram painelistas a deputada federal Tábata Amaral (PSB-SP); a secretária de Estado da Fazenda de Alagoas, Renata dos Santos; a vereadora de São Paulo, Marina Bragante (Rede); a executiva de Pessoas, Cultura e Transformação, Mafoane Odara; a secretária das Mulheres do município do Rio de Janeiro, Joyce Trindade; a deputada estadual do Acre, Michelle Melo (PDT); a diretora executiva do RenovaBR, Bruna Barros; e a diretora do Grupo Mulheres do Brasil, Andréia Schroeder. O evento contou ainda com a participação do presidente da Câmara Municipal de Limeira, vereador Everton Ferreira (PSD), e autoridades de Limeira e outras cidades.
Na abertura, Mariana falou que é preciso estimular a participação das mulheres na política e ocupar os espaços de poder. “Por mais difícil que possa ser, sabemos que o ambiente político não é fácil, mas que a gente permaneça nesses lugares, buscando fazer políticas públicas efetivas, e que possamos também executá-las”.
O presidente da Câmara destacou em seguida os desafios encontrados pelas vereadoras de Limeira no início do mandato em 2020 e o quanto isso influenciou na busca por mudanças no Legislativo Municipal, culminando com uma Mesa Diretora composta majoritariamente por mulheres em 2021. “Com esse time, formado pelas vereadoras Isabelly Carvalho (PT), como vice-presidente, Tatiane Lopes (Avante) e Lu Bogo (PL), e com a Mariana como corregedora, iniciamos transformações profundas na política limeirense e continuamos nessa rota de mudança”, afirmou.
Desigualdade de gênero
Bruna Barros trouxe dados sobre a violência contra a mulher. De acordo com as informações apresentadas, em 2023 houve um crescimento alarmante na violência contra as mulheres no país, foram 258 mil casos de violência doméstica, 800 mil ameaças contra mulheres, mais de 84 mil estupros registrados, mais de 80 mil casos de stalking (forma de violência que consiste em perseguir alguém reiteradamente, ameaçando ou perturbando a sua esfera de privacidade), 91% das mulheres que sofreram violência disseram que o ato aconteceu na frente de outra pessoa.
Ela também falou que quando as mulheres se propõem a entrar na política, buscam lutar contra a violência com políticas públicas como a Casa da Mulher Brasileira, as procuradorias da Mulher nos legislativos e as secretarias da Mulher, entre outras formas para fazer com que as instituições cheguem até mais mulheres.
Saúde mental
O painel tratou sobre os desafios enfrentados pelas mulheres que decidem se lançar na política e que impactam na saúde emocional, sujeitando-as, muitas vezes, a se afastarem da vida pública. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 85% das parlamentares em todo o mundo já enfrentaram algum tipo de violência psicológica no exercício dos mandatos. Com a participação de Marina Bragante e Mafoane Odara, e a moderação de Juliana Calsa, as painelistas falaram sobre suas experiências.
Marina destacou que não é preciso ter um mandato para participar da política, e que não é necessariamente preciso se expor, também é possível contribuir como voluntário, ou mesmo apoiando aquelas que ocupam um cargo público, e disse que as mulheres têm uma forma de se relacionar com a política de forma diferente, por meio do amor.
Mafoane falou sobre os diferentes tipos de violência psicológica na política, que se manifestam por meio de ameaças e intimidações, discurso de ódio, descredibilização e a síndrome da impostora, que leva a mulher a pensar que não é capaz. E pontuou formas de como lutar contra essas violências, buscando autoconhecimento, conhecendo suas fortalezas e limitações; planejar, para ter experiências mais potentes nos locais que ocupam; ter redes de apoio; e estudar.
Desafios no Norte do país
A fala da deputada Michelle Melo foi sobre os desafios enfrentados pelas mulheres no Norte do país. Segundo ela, a política da região é patriarcal e as lideranças políticas são predominantemente masculinas, assim como as lideranças executivas dos partidos políticos. Pontuou ainda que 50% das famílias são chefiadas por mulheres, que não tem tempo disponível para lutar por um lugar na política.
“Precisamos saber nos colocar e nos posicionar em relação ao que temos de melhor. Temos uma forma diferente de fazer. Existem estudos que apontam que um parlamento formado por mais mulheres representa uma sociedade mais justa, que executivos que são compostos por mulheres são menos corruptos e com mais políticas de cuidado. Então a nossa forma de fazer merece e deve estar lá. Nosso lugar é sim ocupando esses espaços, é sim na política, para que de fato possamos ter um mundo mais igualitário”.
Mulheres no Legislativo
Mariana Calsa e Tábata Amaral foram as painelistas escolhidas para falar sobre as mulheres nos legislativos brasileiros. Moderadas por Bruna Barros, as duas discorreram sobre suas motivações políticas, dificuldades e o papel dos homens na luta contra a violência política de gênero.
As políticas públicas alcançadas durante o mandato, como a lei que permite a presença das doulas durante o parto, são o que motivam Mariana a continuar na política. “Os impactos que pequenas ações fazem na sociedade que me fortalecem para estar nesse lugar. Quando me vejo no lugar em que, apesar das dificuldades, conseguimos gerar impacto positivo na vida das pessoas, me fortaleço para estar aqui e buscar motivação para que outras mulheres também ocupem os espaços de poder”.
Para Tábata, um dos grandes desafios é sensibilizar o Poder Judiciário para que lide melhor com a violência política de gênero. Ela contou sobre as ameaças que sofreu e sofre por ser uma mulher na política e dos processos judiciais que moveu contra seus agressores, para os quais a justiça nunca deu uma decisão judicial favorável a ela. Em relação ao papel dos homens, ela destacou a importância de dois amigos durante o primeiro ano de mandato, que a ajudaram a penetrar num ambiente machista, e disse que é preciso que os homens ajudem na luta contra a violência e ajudem as mulheres a alcançar mais espaço na política.
A deputada falou ainda que, mais que cotas para as mulheres durante as eleições, é necessário haver uma reserva de cadeiras no parlamento, pois as cotas abrem brechas para a corrupção e não garantem a participação feminina na política. Complementando o posicionamento de Tabata, Mariana disse que não basta eleger mais mulheres, mas que é necessário ter mecanismos para a manutenção delas nos espaços de poder.
Mulheres no Executivo
O último painel do evento foi composto por Renata dos Santos e Joyce Trindade, e moderado Andréia Schroeder. A participação das mulheres no Poder Executivo e na execução de políticas públicas foi o tema tratado.
Renata falou sobre o seu papel à frente da Secretaria de Fazenda de Alagoas, no qual a maioria das secretarias é ocupada por mulheres. Disse que é importante capacitar as mulheres para ocupar cargos de liderança e que os partidos políticos precisam investir mais para ter um corpo técnico composto por mulheres, que possam ser indicadas para cargos no Executivo das diversas esferas.
Joyce falou da dificuldade das mulheres que, quando indicadas para altos cargos,são desacreditadas pelos homens que são incapazes de vê-las pela capacidade técnica. Ela também apontou a necessidade de capacitação das mulheres para ocuparem cargos de liderança e afirmou que, além das cotas dentro dos partidos para que mulheres concorram a cargos políticos, também é necessário cotas para mulheres no corpo executivo.
As duas destacaram a necessidade das mulheres que ocupam cargos de poder apoiarem as que vêm depois. “Nosso papel enquanto alta gestão, legisladoras, executivas, é abrir as portas para as próximas, para que o caminho delas seja menos difícil, é preciso também apoiar as colegas”, disse Renata. Joyce destacou a necessidade do fortalecimento dos grupos. “Quando estamos fortalecidos enquanto comunidade, conseguimos exercer ainda melhor as nossas habilidades”, complementou.
Informações CML