“Eu bebi, peguei o volante e apaguei. Acordei com a batida. O carro deu perda total, mas eu poderia ter morrido ou causado a morte de alguém. Foi um grande aviso. Nunca mais faço isso.” O depoimento poderia ser parte de uma campanha publicitária educativa sobre a mistura fatal de álcool e direção, mas não é. O relato é do enfermeiro Flávio Conte Vieira, um dos 278 motoristas fiscalizados no último final de semana, na zona leste paulistana, pela Operação Direção Segura Integrada (ODSI), ação de prevenção e conscientização realizada pelo Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) em parceria com as polícias Civil, Militar e Técnico-Científica.
Ele ressaltou a importância do alerta aos motoristas: “Educação é tudo. É segurança para todos nós.” Frequentes em todo o estado, as ODSI abordaram 37% mais condutores nos últimos 12 meses – e estão sendo reforçadas neste mês, em função do Maio Amarelo, movimento internacional dedicado à redução de sinistros de trânsito.
A campanha da 11ª edição brasileira do Maio Amarelo, iniciado em 2011 pela Organização das Nações Unidas (ONU), enfatiza: “Paz no trânsito começa por você”. Foi também essa a mensagem levada aos motoristas pela equipe da primeira ODSI do mês na capital paulista. Na madrugada de sábado (4) para domingo (5), foram registradas 31 recusas ao teste do bafômetro e uma autuação por direção sob efeito de álcool nas avenidas Paes de Barros e Salim Farah Maluf.
“Na escolha do local, a gente considera as informações do Infosiga, ferramenta que nos dá os trechos da cidade com mais ocorrências e índices de sinistros e óbitos no trânsito. Dessa forma, conseguimos ser mais efetivos. Na montagem da operação, em parceria com a PM, usamos o efeito surpresa para evitar que motoristas embriagados consigam escapar por outras vias”, explica Marcelo dos Reis, coordenador da ODSI desde 2018 na capital. Ele conta ainda que, no mínimo duas vezes ao ano, as equipes estão nos pontos onde ocorreu a ODSI deste final de semana, além de repetirem a fiscalização em demais pontos da cidade.
Durante a operação, os agentes do Detran-SP selecionam o veículo para a entrada no drive. “A abordagem consiste em cumprimentar o condutor e informar que será realizado o pré-teste do etilômetro. Se der negativo, o motorista é liberado na hora. Se der positivo, o condutor é orientado a seguir as ordens do policial militar. A partir deste momento, é a PM que se torna responsável pelos procedimentos”, detalha Marcelo. A documentação e os equipamentos obrigatórios do carro, além da CNH, são verificados.
O cidadão também é informado sobre os direitos e deveres naquela situação. “Ele é questionado sobre a concordância em realizar o teste definitivo do etilômetro, que acusa com precisão o índice de álcool no sangue. Caso não aceite realizar o teste, o motorista será autuado da mesma forma, por recusa ao teste do bafômetro. Os condutores autuados devem solicitar a presença de um parente ou conhecido devidamente habilitado, que necessariamente se submeterá ao teste do etilômetro para poder conduzir o veículo para outro local. Caso esse motorista substituto não se apresente até o final da operação, o veículo será recolhido ao pátio”, complementa Marcelo.
A equipe do Detran-SP, encarregada de orientar os motoristas e realizar os testes do bafômetro nas operações, conta com voluntários. São servidores públicos do órgão estadual de trânsito que trocam o conforto de casa nas madrugadas para se empenharem no trabalho de conscientização nas avenidas da cidade. “É uma forma de educar a população, de você estar salvando vidas”, diz a oficial administrativa do órgão, Gleide Maria Lopes Oliveira, que acompanha as atividades há dez anos.
O agente estadual de trânsito Gustavo Contes de Souza, incorporado recentemente ao quadro de funcionários do Detran-SP, estava satisfeito com a participação em sua primeira ODSI. “No mundo ideal, não seria necessário, mas infelizmente precisamos estar aqui para cumprir esse papel”, afirmou, ressaltando a importância de se tirar das ruas os condutores infratores, que consomem álcool e colocam todos em risco.
A supervisora Gisele de Melo foi uma das motoristas abordadas pelo Detran-SP no último final de semana. Ela concorda que as fiscalizações são necessárias e têm que ser multiplicadas, já que obrigam as pessoas a terem mais consciência. “Bebida e direção não combinam, é fato, um risco para vida de quem está dirigindo e para as outras pessoas que estão no entorno”, afirma. Gisele incorporou o hábito de não incorrer na mistura fatal. “Você consegue se divertir sem estar alcoolizada. As pessoas que saem comigo gostam, porque geralmente sou eu a motorista da rodada. A sociedade sabe dos riscos e insiste no erro”.
Tem que ter cada vez mais
O motorista Victor Bruno Baeta, abordado na fiscalização da avenida Salim Farah Maluf, contou que parou de beber quando começou a trabalhar com aplicativo. Ele já se deparou com fiscalizações em três pontos diferentes da cidade numa mesma noite. Para Victor, a ação tem um efeito fundamental. “Tem noite que chego a passar por diversas fiscalizações. Isso é uma maravilha, tem que ter cada vez mais, para o povo entender e aprender. Acho perfeito, precisa inibir mesmo”, afirmou.
David Marçal Ribeiro, fiscal de ônibus, comemorou a realização do seu primeiro teste do bafômetro na madrugada do último domingo (5). A empresa onde ele trabalha tem promovido ações de conscientização em relação aos perigos da alcoolemia ao volante, especialmente por ocasião do Maio Amarelo. “A gente tem que contar com o trabalho de vocês, porque fiscalizar é árduo, é difícil, mas tem que fiscalizar e punir severamente”, enfatizou. “Bebida e trânsito juntos nunca ‘colaram’ e nunca vão ´colar´. Essas pessoas tinham que ficar ao menos um dia de castigo na emergência de um hospital para verem as vítimas que entram mutiladas ou que perderam a vida em consequência de uma pessoa que bebeu”.
Três tipos de infrações por alcoolemia
Vale destacar que tanto dirigir sob efeito de álcool – quando o teste do etilômetro aponta o índice de até 0,33 mg de álcool por litro de ar expelido – quanto recusar-se a soprar o bafômetro são consideradas infrações gravíssimas (artigos 165 e 165-A do CTB). Em ambos os casos, o valor da multa é de R$ 2.934,70 e o condutor responde a processo de suspensão da carteira de habilitação. Se houver reincidência no período de 12 meses, a pena é aplicada em dobro, ou seja, R$ 5.869,40, além da cassação da CNH. Nos casos de embriaguez ao volante, que ocorrem quando o motorista apresenta índice a partir de 0,34 miligramas de álcool por litro de ar expelido no teste do etilômetro, há configuração de crime de trânsito: se condenado, o motorista, além da multa e suspensão da CNH, cumpre de seis meses a três anos de prisão, conforme prevê a Lei Seca, também conhecida como “tolerância zero”.
“As ODSIs contribuem para evitar acidentes e para conscientizar a população, por exemplo, sobre a necessidade de separar álcool e volante. A direção de veículos sob influência de álcool é uma das principais causas de sinistros e óbitos no trânsito”, diz Ícaro Eustachio, diretor de Educação para o Trânsito e Fiscalização do Detran-SP.
Mais ações educativas no Maio Amarelo
A programação do Detran-SP no Maio Amarelo não será apenas de fiscalizações. Por meio da Escola Paulista de Trânsito (EPT) e em parceria com a Fundação Vanzolini, serão promovidas palestras para o público externo, transmitidas online, para alcance de maior público. Os temas abordados a partir de 14 de maio serão:
- 14/5 – Representação do Maio Amarelo
- 15/5 – A prevenção começa na educação e na comunicação
- 20/5 – A importância da direção defensiva na segurança do trânsito
- 23/5 – Comportamento seguro, diga não para o celular no trânsito
- 27/5 – Acidentes de trânsito, o que você precisa saber sobre amputação
- 28/5 – Empatia no trânsito começa por você
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